Neste mesmo dia, em 12 de agosto 1900, morre Eça de Queirós, um dos maiores escritores de língua portuguesa.
Também tinha um gato, ... o Gato dos Maias, de nome D. Bonifácio de Calatrava.
“…Este
pesado e enorme angorá, branco com malhas louras, era agora (…) o fiel
companheiro de Affonso. Tinha nascido em Santa Olavia, e recebera então o
nome de Bonifacio: depois, ao chegar á edade do amor e da caça fora-lhe
dado o appellido mais cavalheiresco de D. Bonifacio de Calatrava:
agora, dorminhoco e obeso, entrara definitivamente no remanso das
dignidades ecclesiasticas, e era o Reverendo Bonifacio...”
(..)
“O
reverendo Bonifacio, que desde que se tornara dignatario da Egreja
comia com os senhores, lá estava já, magestosamente sentado sobre a
alvura nevada da toalha, á sombra de algum grande ramo. Era alli, no
aroma das rosas, que o veneravel gato gostava de lamber, com o seu vagar
estupido, as sopas de leite servidas n'um covilhete de Strasburgo,
depois agachava-se, traçava por diante do peito a fofa pluma da sua
cauda, e, de olhos cerrados, os bigodes tesos, todo elle uma bola
entufada de pello branco malhado de ouro, gosava de leve uma sesta macia.
(..)
“Carlos,
(…) contou o fim do reverendo Bonifacio. Morrera em Santa Olavia,
resignado, e tão obeso que se não movia. E o Villaça, com uma idéa
poetica, a unica da sua vida de procurador, mandára-lhe fazer um
mausoléo, uma simples pedra de marmore branco, sob uma roseira, debaixo
das janellas do quarto do avô.
in “Os Maias”, Eça de Queiroz
Afonso da Maia (João Perry) com o seu gato, Reverendo Bonifácio,
no filme de João Botelho
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