terça-feira, 22 de março de 2011

Pela Poesia ...


Poema do Gato - António Gedeão




Quem há-de abrir a porta ao gato

...quando eu morrer?


Sempre que pode

foge prá rua

cheira o passeio

e volta para trás,

mas ao defrontar-se com a porta fechada

(pobre do gato!)

mia com raiva

desesperada.



Deixo-o sofrer

que o sofrimento tem sua paga,

e ele bem sabe.



Quando abro a porta corre para mim

como acorre a mulher aos braços do amante.

Pego-lhe ao colo e acaricio-o

num gesto lento,

vagarosamente,

do alto da cabeça até ao fim da cauda.

Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,

olhos semicerrados, em êxtase,

ronronando.



Repito a festa,

vagarosamente,

do alto da cabeça até ao fim da cauda.

Ele aperta as maxilas,

cerra os olhos,

abre as narinas,

e rosna,

rosna, deliquescente,

abraça-me

e adormece.



Eu não tenho gato, mas se o tivesse

quem lhe abriria a porta quando eu morresse?




vejam este linck ... É Maravilhoso!

Sem comentários: